Boletim Agrofinanças | nº 34 | Abril | 2012



Cenário econômico no campo é positivo

Apesar da crise internacional, a economia brasileira vem apresentando um desempenho satisfatório. Atualmente, os setores de serviço e agropecuário são responsáveis pelas maiores taxas de crescimento. O maior problema hoje é o setor industrial, que, segundo estudos, está com quedas de produtividade, em função do câmbio valorizado e dos altos custos internos, o que gera baixa competitividade internacional.

Segundo dados do economista e pesquisador do IPEA Régis Bonelli, o crescimento da produtividade da economia brasileira entre 2000 e 2009 foi de 0,6% ao ano¹. A produtividade é um fator que mede a eficiência do trabalhador e do capital empregado na economia, sendo um indicador de qualificação da mão-de-obra, de eficiência e de tecnologia produtiva.

Ao olhar os dados de forma setorial, observa-se que a maior taxa de crescimento da produtividade no período foi a da agropecuária, com 4,3% ao ano. No setor de serviços, o crescimento da produtividade também foi positivo, muito próximo da média geral. Já no setor industrial, segundo o pesquisador, a produtividade foi negativa em 0,8% ao ano no período.

Dessa forma, os dados denotam uma maior evolução qualitativa da utilização dos fatores de produção agrícola em relação aos demais setores da economia. Em parte, isso pode ser explicado pelo recente ciclo virtuoso do campo, propiciado pela maior capitalização dos produtores, o que gera maior investimento em tecnologia (sementes, fertilizantes e defensivos), maquinários mais modernos e precisos (colheitadeiras, pulverizadores) e maior profissionalização dos médios e grandes agricultores, com a presença de grupos econômicos nacionais e estrangeiros atuando na produção agrícola. Vale ressaltar que o melhoramento genético, sobretudo nas culturas do milho e algodão, tem prestado um papel importante na evolução da produtividade agrícola no sentido amplo.

Segundo dados da CONAB e do IBGE, houve crescimento de 3,13% ao ano da produtividade agrícola do algodão e de 3,11% ao ano para a cultura do milho entre as Safras 2001/02 e 2011/12. Na soja, caso não houvesse a quebra produtiva na Safra 2011/12, em função da seca no sul do país, a taxa de crescimento anual da produtividade seria de 1,91%. De qualquer forma, para essa cultura, existe uma grande expectativa de elevação da produtividade no lançamento das variedades RR2 da Monsanto, esperada para os próximos meses, apesar dos conflitos sobre o peso dos royaties impostos pela empresa.

Também houve ganhos na laranja, que passou de uma produtividade média de 22,3 toneladas por hectare na Safra 2001/02 para 25,2 toneladas por hectare na Safra 2011/12. Quanto à cana-de-açúcar, observa-se um forte incremento da produtividade até a Safra 2008/09, o que se reverte nas safras seguintes, em função de problemas como “envelhecimento” da lavoura, pela falta de investimentos nos canaviais, além de insuficiência de chuvas no estado de SP em 2011 e início de 2012. A taxa de crescimento anual da produtividade da cultura foi de apenas 0,65% no período de análise, conforme demonstrado no gráfico abaixo:



Gráfico 1. Evolução da produtividade de culturas no Brasil entre as Safras 2001/02 e 2011/12
 
Evolução de Produtividade Média Agrícola no Brasil (kg/ha)




 
Fonte: CONAB e IBGE


Outro fator importante a ser destacado sobre o cenário no campo é a taxa da valorização dos ativos (preços das commodities agrícolas e das terras). Entre 2005 e 2012, segundo o Índice de Commodites Brasil (ICBr) do Banco Central, os ativos que apresentaram maior valorização foram os ativos agropecuários, que valorizaram 35,16% no período. O índice composto apresentou valorização de 24,59%. As commodities metálicas valorizaram 17,13%, enquanto a energia apresentou queda no período, como demonstra o Gráfico 2.


Gráfico 2. Evolução do Índice de Commodities Brasil (ICBr) entre 2006 e 2012 (primeiro trimestre)



Fonte: Banco Central


Em relação aos valores de terras, ao fazermos uma comparação da evolução entre 2006 e 2011 no Brasil em cinco grandes polos de produção, verifica-se a valorização desse ativo no período, o que vem gerando um enriquecimento da classe detentora de terras no país.


Tabela 1. Evolução dos valores de terra entre 2006 e 2011 no Brasil


Fonte: Agrianual 2012, FNP

Dentre as regiões listadas acima, as maiores taxas de valorização entre 2006 e 2011 ocorreram no Oeste Baiano (151,0%) – região de cultivo de soja, milho e algodão -, Balsas/MA (140,5%) – região de nova fronteira agrícola da soja – e Campo Mourão/PR, região central do Paraná, onde há forte atuação de cooperativas agroindustriais e cultivo de soja, milho e trigo. Destaca-se a forte valorização que ocorreu entre 2010 e 2011 em Balsas/MA (38,5%), muito acima da taxa de crescimento das demais regiões. Essa região, com características de fronteira agrícola, ainda apresenta o menor valor por hectare dentre as regiões comparadas.

O maior valor de terra está na região de Ribeirão Preto/SP, com R$ 23.167/ha em áreas de cultivo de cana-de-açúcar, seguido por Campo Mourão (R$ 22.000,0/ha, terra de alta produtividade de grãos) e Passo Fundo/RS (R$ 20.000,0/hectare, terra de alta produtividade de grãos).
 
O cenário positivo para o agronegócio reflete-se também no crédito, que apresenta baixas taxas de inadimplência nos últimos anos, elevado percentual de autofinanciamento e um crescente interesse do sistema financeiro em financiar produtores de porte médio e grande. No mesmo contexto, houve uma melhora na capacidade de garantia dos contratos de financiamento dos produtores, em função da valorização das terras oferecidas aos credores.

A maior produtividade, associada à melhor gestão dos produtores, acesso ao crédito e os melhores índices de preços das commodities agrícolas, diminuem o risco dos recebíveis agrícolas. O cenário recente de valorização dos ativos agrícolas parece ser patamar bem fundamentado, devido à pressão de demanda (efetiva e potencial), aliada a estoques apertados no mercado de grãos.

Assim, tanto o ativo imobilizado do produtor (propriedades), quanto o seu ativo circulante (estoque e disponibilidade de caixa por unidade de área cultivada) apresentam uma valorização significativa face aos outros setores da economia. Dessa forma, o produtor agrícola é um agente econômico que, outrora era evitado em transações diretas do sistema financeiro, em função das incertezas e riscos que permeiam a atividade agrícola, agora passa a ser target desse setor.

Hoje o produtor empresarial já é visto como um ponto importante e seguro na cadeia produtiva. Apesar de o ambiente mostrar uma evolução, ainda é necessário evoluirmos nos mecanismos de distribuição de riscos e governança nas operações de crédito para produtores e intermediários, haja vista que temos que crescer a nossa produção de grãos em 40% até 2020, demandando fundamentalmente, os recursos privados.

(1) Segundo o artigo “O Brasil no início de 2012”, de José Roberto Mendonça de Barros, publicado no Jornal “O Estado de São Paulo”, em 01/04/2012
 
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Troca & Securitização

Cresce o interesse dos bancos pelo Agronegócio, na medida em que já existe alguma saturação nos segmentos de veículos e imobiliário. A queda nas taxas viabiliza as operações de financiamento de prazo safra para revendas e para os fornecedores considerados Middle Market (faturamento entre R$ 50 e R$ 200 milhões).

Na última reunião da Câmara Temática de Crédito e Comercialização do Agronegócio, realizada no dia 10/04, a FEBRABAN (através do seu representante Ademiro Vian) manifestou, de acordo com a Ata da Reunião, “com relação às disponibilidades de recursos, que existe uma expectativa de estabilidade e possivelmente uma pequena queda nos recursos advindos do Crédito Rural. Comenta que os depósitos à vista não são mais a melhor forma de se obter os recursos para o custeio agrícola, apontando a necessidade de se discutir novas fontes de recursos“.

Nesse contexto, tanto as instituições financeiras, quanto as empresas intermediárias no financiamento da produção, terão que ser mais criativas na busca de estruturações que atendam à governança demandada pelos bancos e investidores. O mercado secundário de títulos agrícolas seria um dos caminhos para atrair recursos privados, mas o campo ainda é sinônimo de assimetria da informação e falta de governança na visão dos mercados financeiros e isso emperra, por exemplo, a entrada dos fundos de pensão que, apesar do avanço trazido pela Resolução 3.305 de 2005, ainda permanecem ausentes do financiamento do custeio agrícola.

Essa Resolução permite que as entidades possam adquirir os novos títulos agrícolas (Lei nº 11.076/2004), como LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e CRA ( Certificados de Recebíveis do Agronegócio ), assim como a CPR ( Cédula de Produto Rural ) na modalidade financeira com cobertura de companhia seguradora. Mas a complexidade na quantificação e medidas de mitigação do risco dificulta a penetração dos fundos nesse mercado. Sem dúvida, esse é um segmento que poderia inundar a agricultura com recursos, uma vez quebrada essa barreira.
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Crédito & Recebimento



Estamos entrando no período de vencimento das contas da safra verão e existe uma expectativa em relação à performance das contas pendentes do Sul, haja vista o impacto da seca sobre a receitas dos produtores, que gera conseqüências negativas no recebimento das revendas e cooperativas da região.


É importante salientar que não há menor correlação entre a situação atual e a que ocorreu em 2005 na região, devido a três aspectos fundamentais: 1) Maior capitalização dos produtores nessa safra; 2) Agilidade na extensão de prazos do BB e 3) Estimativa inicial de rentabilidade alta tanto para a soja (entre 40-50% de margem sobre o custo), quanto para o milho (entre 60-70% de margem).


Mesmo com essas considerações, é de se esperar algum nível de atraso nas regiões onde as perdas foram mais severas, por exemplo, nas cercanias de Santa Rosa, Santa Maria e Ijuí. Para as empresas que apresentam uma importância maior pela dependência econômica ou tecnológica que criam sobre o produtor, é possível esperar um índice de atraso entre 5 e 10%, enquanto que para as empresas que operam com menos garantias e têm pouca ascendência sobre o produtor ou os intermediários do crédito, é possível alcançar o intervalo entre 10 e 15%. É importante destacar que a boa conjuntura nos preços da soja e milho, para os próximos 18 meses, permitirão que se façam renegociações em boas condições para os dois lados. Alguns problemas pontuais poderão ocorrer no sul do MS e oeste do PR pelo mesmo motivo. Já a região do Arroz e a Região Nordeste do RS não devem apresentar problemas.
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Dinâmica dos Preços

                       

SOJA

A quebra de safra ocasionada pela seca no Sul do Brasil e na Argentina reduziu a oferta da soja, redução provocada também pela potencial diminuição da área dos EUA, o que contribuiu para a elevação dos preços. Além disso, a demanda internacional pela oleaginosa segue alta.

MILHO

Os preços do milho estão em queda devido ao excesso de oferta do grão no mercado no período pós-colheita. O aumento da área de milho safrinha também contribui para a queda do preço do produto, em função da perspectiva de menor oferta no segundo semestre. A demanda externa pelo grão também tem sido pequena, o que contribui para a manutenção dos preços mais baixos. O total embarcado no 1° trimestre de 2012 representa um volume 45,8% menor que o do mesmo período do ano passado.

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Câmbio

                                                               Fonte: Banco Central do Brasil

Entre 12 de março e 12 de abril/12, o dólar comercial apresentou uma leve valorização de 1,62%. Segundo o Boletim Focus de 13 de abril/12, a expectativa dos agentes é de que no final de 2012, o dólar comercial apresente a cotação de R$ 1,80/dólar.

A guerra cambial entre os países, visando aumentar a competitividade das exportações, tem preocupado as autoridades monetárias no Brasil. Os países, especialmente os desenvolvidos, que estão mais em crise, têm aumentado a injeção de capital na economia para mitigar a crise, o que reforça o movimento de desvalorização de suas moedas e torna os produtos mais baratos e competitivos no mercado internacional.

 Segundo dados do Banco Central, a sobre de dólares no Brasil no primeiro trimestre de 2012 foi de US$ 18,7 bilhões, contra US$ 35,9 bilhões no mesmo período de 2011. A instituição intervém no mercado cambial, para não permitir a valorização excessiva do Real e diminuir ainda mais a competitividade da indústria. Com a queda da taxa de SELIC, que atualmente está no seu menor patamar desde junho de 2010 (9,0% a.a.), a pressão sobre o mercado de câmbio brasileiro diminui, em função da menor atratividade dos títulos nacionais. A expectativa do mercado é de que a SELIC se mantenha no patamar de 9,0% a.a. até o final de 2012.
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Viabilidade & Liquidez




Viabilidade

O cenário para grãos é ainda bastante positivo, haja vista que o estoque mundial de soja foi afetado pelas perdas no Brasil, Argentina e Paraguai, formando um suporte para os preços em CBOT. Eventuais turbulências no ambiente macroeconômico terão efeito limitado sobre a rentabilidade dos produtores nos próximos 18 meses, principalmente pela predisposição do MF e Banco Central de “proteger” o real, da enxurrada de dólares que vêm de investidores externos. Vale lembrar que em 2008-09 a agricultura não tomou conhecimento da crise gerada pela quebra do Lehman Brothers. A demanda de alimentos pelo mundo, particularmente na Ásia, segue crescendo. Por fim, a  redução da taxa de juros também favorece o setor. Por ser um segmento demandante de crédito por períodos prolongados ,o impacto positivo nas reduções de taxas é sensível nas contas dos intermediários do crédito (Coops, Revendas, e Cerealistas) além dos produtores empresariais, em especial os produtores do cerrado que captam recursos por fora das linhas do Crédito Rural institucional.

Liquidez

De maneira geral o impacto negativo na liquidez foi maior nos estados do sul onde a estiagem afetou fortemente a geração de caixa desta safra, de acordo com a Emater-RS : -42% no milho e -43% na soja , por exemplo. Embora exista um saldo de safras anteriores que não pode ser desconsiderado, e um certo “colchão” oferecido pela rentabilidade inicial projetada para a soja e o milho, o efeito sobre a liquidez foi significativo em comparação com o nosso último relatório.Na Bahia, temos identificado uma redução na expectativa de produtividade para a soja e algodão pela baixa umidade o solo. Essa perda gira em torno de 20-25%  na soja e entre 10-15% no algodão.  Também o café foi afetado pela queda nos preços e pela época do ano, quando os produtores têm menos caixa pela proximidade da colheita. No mais,não há alterações negativas a serem destacadas. No campo positivo,temos a evolução dos preços do milho e da soja nas demais regiões e a boa produtividade, sobretudo no centro-oeste. O algodão sofreu uma acomodação nos preços, mas ainda oferece uma boa oportunidade de geração de caixa. Nesse momento, os produtores dessas culturas têm a oportunidade de recebimento do mercado físico e antecipações pela colheita do algodão, sorgo e do milho safrinha.







Nota: A Agrosecurity não se responsabiliza pelo uso indevido do conteúdo do Boletim para efeito de definição de limite de créditos individuais ou da exposição financeira regional. Por se tratar de uma avaliação do quadro geral (médio) dos aspectos econômicos e financeiros, pode haver divergências significativas da situação real de liquidez e viabilidade de um produtor rural em particular




 Editorial
  Cenário econômico no campo é positivo: Felipe Prince e Fernando Pimentel Troca e Securitização / Crédito e Recebimento: Fernando Pimentel  Câmbio: Felipe Prince  Edição: Luiz Barbarini





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