Boletim Agrofinanças | nº 32 | Novembro | 2011


Descolamento entre Commodities Agrícolas e demais Ativos

Após a década de 1950, mesmo com o forte aumento populacional (que passou de 3 bilhões em 1961 para 6 bilhões em 1999), os preços agrícolas subiram pouco, em termos reais, o que foi uma resposta aos processos da Revolução Verde a partir da década de 1970. Esse processo provocou o aumento da tecnologia aplicada por unidade de área cultivada, através da utilização de máquinas e equipamentos especializados, agroquímicos, adubação, melhoria genética de sementes, especialização de mão-de-obra e melhora da gestão dos produtores. Assim, mesmo com a duplicação da população no período, os preços agrícolas permaneceram relativamente estáveis.

No entanto, após 2005, observamos um aumento dos preços das commodities agrícolas, acima dos demais ativos do mercado financeiro. Ou seja, houve um descolamento entre os preços das commodities agrícolas e os preços dos demais ativos financeiros. Após a primeira fase da crise de 2007/08, as commodities agrícolas, diferentemente dos ativos negociados em bolsas, não só vêm apresentando maior resistência a momentos de queda, como também têm apresentado movimentos de alta. Isso reflete não apenas a baixa elasticidade-renda dos produtos agropecuários, mas também a aceleração da taxa de crescimento mundial da demanda, como conseqüência do aumento populacional e, especialmente, da renda nos países mais pobres. Além desses fatores fundamentais, as operações por não hedgers serve também como proteção inflacionária, ou simplesmente como posição especulativa, haja vista que o mercado de ações tem se mostrado um tanto errático nos últimos tempos, apesar da forte valorização nos últimos anos.
 
Na semana passada, a população mundial atingiu a marca de 7 bilhões. Segundo a ONU, devemos atingir a marca de 9,3 bilhões em 2050. Não é apenas o crescimento populacional que tem pressionado os preços dos alimentos, mas também o aumento da renda, especialmente nos países emergentes. Segundo dados da FAO, cerca da metade da população mundial continua pobre e 20% ainda passa fome. Assim, mesmo que a população mundial estagnasse no patamar de 7 bilhões, o simples fato do aumento da renda já seria um fator indutor da alta nos preços dos alimentos.
 
 
No mercado internacional, no período entre 2005-2011, os três grãos mais importantes na cesta de consumo mundial apresentaram aumento expressivo, muito acima da inflação. O milho foi a que apresentou maior aumento, passando do patamar de US$ 98/tonelada em 2005 para US$ 298, o que representa aumento de 204%. A soja, por sua vez, passou de US$ 223/ton para US$ 503/ton (aumento de 125% no período). Já o trigo apresentou incremento de 117% no período, passando de US$ 152/ton para US$ 330/tonelada. A inflação mundial acumulada no período foi de 32%, enquanto a inflação no Brasil foi de 40% até setembro de 2011. O aumento do preço dos grãos foi significativamente acima do aumento da inflação.   


Gráfico 1: Evolução dos Preços de Commodities Agrícolas no Mercado Internacional (US$/tonelada)


Fonte: FMI/IFS


No Brasil, segundo o IC-BR (Índice de Commodities do Banco Central), desde dezembro de 2008, o índice de preços dos produtos agropecuários apresenta o maior patamar dentre os setores. Em outubro de 2011, o índice dos produtos agropecuários alcançou o patamar de 182 em outubro/11 (base 100 em dez/05), contra 140 dos metais e 105 dos preços da energia. O índice composto alcançou o patamar de 161 em outubro/11.


Gráfico 2: Índices de Commodities (base 100 - dez/05)

Fonte: Banco Central do Brasil
   

No cenário pós-crise, o crescimento do PIB global apresenta cada vez maior dependência em relação aos mercados emergentes. Segundo o FMI, a projeção média de crescimento para os países desenvolvidos em 2011 é de 1,61%, enquanto a taxa média projetada para os países em desenvolvimento é de 6,4%. Já para 2012, a taxa projetada dos países desenvolvidos é de 1,92%, contra 6,08% dos emergentes. Os dados são mostrados na tabela abaixo:


Tabela 1: Projeção da Taxa de Crescimento do PIB dos Países (% a.a.)


 Fonte: World Economic Outlook, FMI, set/11

Uma das questões que mais preocupa as empresas é a consistência da demanda pelos seus produtos. Atualmente, essa preocupação é maior nos mercados já maduros, onde há pouco espaço para crescimento da taxa de consumo. Nesse aspecto, as indústrias de bens duráveis em geral e de bens de capital apresentam maior vulnerabilidade que as indústrias de alimentos. A expansão do crédito, isenções fiscais e medidas protecionistas têm sido a solução encontrada pelos governos para sustentar os preços desses bens.

Por outro lado, os preços das commodities agrícolas estão em patamares historicamente elevados. Uma pergunta que muitos analistas vêm fazendo é: até que ponto teremos a resistência dos preços das commodities agrícolas? Se olharmos pela conjugação de fatores como aumento da população e da renda, especialmente de Brasil, Índia e China e aumento populacional, os preços devem continuar nesses patamares por um bom tempo. O nosso maior desafio e que poderá responder melhor a essa pergunta dependerá do aumento da tecnologia aplicada no campo, como forma de aumento de produtividade e da produção. Apenas nessas circunstâncias, os preços agrícolas não induzirão a um processo inflacionário.
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Troca & Securitização

Depois de vários anos de vigência da Lei que criou o CDCA, LCA, WA (LEI No 11.076/04), pela primeira vez uma estrutura operacional para a emissão de CRA, prevista na Seção V dessa Lei, foi implementada. Isso mostra a mudança de humor do mercado financeiro em relação ao segmento do agronegócio.

Com uma injeção de capital de R$ 2,1 milhões de quatro bancos, a Brasil Agrosec, securitizadora de direitos creditórios do agronegócio, acaba de efetivar uma nova estrutura societária. A operação marcou a entrada do Banco JBS e do grupo Ourinvest na companhia. As instituições se juntam aos bancos Fator e Indusval, que iniciaram as atividades da empresa, no fim do ano passado, e também participaram da operação.

A empresa pretende se valer dos incentivos como a isenção de imposto de renda no investimento em CRA para pessoas físicas para fomentar esse mercado. É uma iniciativa interessante e que aproxima o investidor comum do agronegócio.

Essa iniciativa se soma a outras do segmento de securitização de recebíveis agrícolas, como, por exemplo, as operações de risk sharing, que vêm evoluindo no sistema financeiro com foco no middle market. Operações que há cinco anos não eram nem consideradas nos portfolios dos bancos agora viram mercado de nicho e devem se propagar nos próximos anos no esteio da necessidade do Brasil e elevar a sua produção agrícola em 40% até 2020.
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Crédito & Recebimento



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Iniciamos uma nova safra até o momento dentro de uma relativa normalidade climática. Além disso, as condições de mercado são muito positivas para a maioria das commodities. Como exemplo, é de se esperar que, em condições normais de colheita os produtores de soja do cerrado capitalizem em torno de R$ 400 a 800 por hectare, considerando que, no MT, já temos em torno de 60% da produção pré-fixada. No sul, o mapa abaixo demonstra que o quadro de geração de caixa é melhor. Embora CBOT tenha caído, a compensação cambial deve garantir a boa rentabilidade para os gaúchos e paranaenses. Agora, é acompanhar a evolução da safra para estimar a produtividade. Até o momento não há nenhum evento que ponha em risco as estimativas delineadas no mapa abaixo.



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Dinâmica dos Preços
                       

ALGODÃO:

A desvalorização do dólar frente ao real durante o mês de outubro influenciou os preços do algodão. Há ainda um forte descompasso entre a demanda dos produtores e a oferta das indústrias, o que faz com que ocorra um volume menor de negociações. A volatilidade advinda do cenário internacional deve prosseguir. Por isso, os produtores tendem a ter interesse em negociar contratos futuros, já que pode haver baixas ainda maiores nas cotações, e seria mais seguro garantir as margens atuais, que ainda são consideradas boas. A margem de um produtor de Primavera do Leste é de R$ 1.180,5/hectare para Safra 2011/12.

ÁLCOOL HIDRATADO:

Os preços do álcool hidratado subiram devido à menor oferta, provocada pelo fato de algumas usinas já terem encerrado seus trabalhos devido à baixa produtividade, que pode ser explicada pela falta de investimentos anteriores nos canaviais e ainda pela ocorrência de duas geadas ao longo do ano. No estado de São Paulo, 50 das 200 usinas já haviam antecipado o fim da colheita no final do mês de outubro, sendo que geralmente isso só ocorre em dezembro. Outro fator que impulsionou os preços está relacionado ao aumento da demanda, que ocorreu por conta da elevação de preços da gasolina em alguns locais do Brasil. A tendência é que a alta continue, pois o período da entressafra vai até abril.
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Câmbio

O dólar fechou outubro cotado a R$ 1,7031, com queda mensal de 9,48%. Essa foi a maior queda desde maio de 2009, quando a moeda caiu 9,52% em um mês. Em setembro/11, ocorreu expressiva alta da moeda americana, de 18,11%, por conta da crise européia, que provocou uma corrida ao dólar. Ao longo do mês de outubro, no entanto, aumentou a confiança do mercado nas soluções apresentadas pela zona do euro. 

Apesar da maior confiança demonstrada no último mês, o mercado continua instável, e o câmbio, volátil. A instabilidade ficou evidente no dia 01/novembro, diante do anúncio do primeiro-ministro grego da possibilidade de um referendo para aprovar o pacote de medidas de apoio ao país, provocando a desconfiança dos agentes, o que levou a uma valorização de 2,97% na moeda americana frente ao real.

No Brasil, o Banco Central tem se demonstrado tranquilo quando o dólar atinge patamares mais baixos. Não houve, por exemplo, nenhuma atitude no sentido de depreciar o câmbio quando a cotação chegou a menos de R$ 1,70. Pode ser que essa atitude reflita uma preocupação da instituição em amenizar a inflação, pois com o dólar mais baixo os preços tendem a ficar menores. Nesse cenário de instabilidade, o último Boletim Focus, do dia 04/novembro, demonstrou que a expectativa é de que o dólar seja cotado a R$ 1,75 no final de 2011 e 2012.

Em relação à conjuntura macroeconômica, nos últimos cinco anos, apesar de o real estar no patamar mais valorizado (média de R$ 1,64/dólar até o mês de outubro), o saldo anual da balança comercial em 2011 será maior que o observado no triênio 2008-10. Apesar do aumento das importações (que passaram de US$ 114 bilhões em 2010, até agosto, para US$ 146,5 bilhões no mesmo período de 2011), o movimento é atribuído, em grande parte, ao aumento das cotações das commodities exportadas pelo Brasil, especialmente as agrícolas. O saldo do balanço de pagamentos em 2011, até setembro (US$ 56,6 bilhões), também já está mais elevado que o apresentado nos últimos três anos.

As reservas internacionais brasileiras também cresceram muito no período, passando de US$ 180,3 bilhões no final de 2007 para US$ 353,4 bilhões em agosto de 2011. O IDE (Investimento Direto Estrangeiro) está aumentando, pelo fato de os ativos brasileiros demonstrarem ser confiáveis e por conta do pré-sal e dos eventos esportivos. Segundo dados do BACEN, em 2011, até o mês de setembro de 2011, o IDE chegou a US$ 50,4 bilhões. Isso representa ganho de 25,7% em relação a todo o ano de 2010 e 153,2% sobre o ano de 2009.  


Tabela 2: Conjuntura Macroeconômica



Nesse sentido, a conjugação de fatores como a consistência nos saldos da balança comercial e de pagamento, entrada de IDE e reservas internacionais substanciais tende a pressionar o real em um patamar entre R$ 1,7 e 1,8 nos próximos meses. Acreditamos que oscilações para baixo são mais prováveis que oscilações para cima, em função da atratividade dos ativos físicos e financeiros do Brasil.
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Viabilidade & Liquidez




Viabilidade e Liquidez

Na cadeia de grãos, os índices de viabilidade estão melhores que os índices de liquidez, pois estamos em uma época de baixo caixa para os produtores. Nas regiões de milho safrinha (PR, GO e MT), a liquidez é mais elevada, em função da venda recente do cereal. Na cadeia de fibras, o câmbio prejudicou um pouco a receita dos contratos indexados em dólar em 2010, mas o resultado é bem satisfatório se comparado aos anos anteriores. Para o café, a viabilidade econômica da Safra 2012 está acima da Safra 2011, em função dos melhores preços e ano de safra alta. Novembro é um mês de forte movimentação para compras de fertilizantes e defensivos no Sul de MG para essa cultura.


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Nota: A Agrosecurity não se responsabiliza pelo uso indevido do conteúdo do Boletim para efeito de definição de limite de créditos individuais ou da exposição financeira regional. Por se tratar de uma avaliação do quadro geral (médio) dos aspectos econômicos e financeiros, pode haver divergências significativas da situação real de liquidez e viabilidade de um produtor rural em particular


 Editorial
  Descolamento entre Commodities Agrícolas e demais Ativos: Felipe Prince Crédito e Troca: Fernando Pimentel  Câmbio: Felipe Prince e Luiz Barbarini





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