Boletim Agrofinanças | nº 21 | outubro | 2008

 

A Crise e o Agronegócio – Sobrevivendo em meio à turbulência

Desde a falência do Banco Lehman Brothers, o mercado financeiro global entrou em uma espiral de perdas e pânico, que mobilizou todas as lideranças do G-20 e bancos centrais do G-7, visando resgatar a credibilidade do sistema de crédito interbancário e, assim, destravar os fluxos de recursos, vitais para a economia real.
 
Apesar de parecer que estamos chegando à fase aguda (ou no “fundo do poço”) da crise, a julgar pelos seus efeitos reflexos, os fatos nos levam a crer mais que estamos chegando apenas ao final da primeira fase.

Como se trata de uma crise que envolve a quase paralisação das operações de crédito, a mesma afeta diretamente o fluxo de caixa das empresas, o que gera uma premência de tempo. Em outras palavras, se as autoridades monetárias não agirem de forma rápida e eficaz, os danos serão cada vez mais graves para todas as economias do planeta.

Apesar das medidas implementadas nos EUA e Europa na última semana, a normalização no fluxo de recursos deve demorar a ocorrer na economia real. Enquanto isso, as tesouraria dos bancos evitarão as exposições e as áreas de crédito seguirão conservadoras. 

Vamos evitar falar nas fases vindouras, pois elas dependerão de fatores ainda não mensuráveis, como desemprego nos EUA, capacidade do consumidor em honrar seus compromissos no cartão de crédito e financiamento de veículos nos próximos meses, além do estímulo para as voltas às compras. Adicionalmente, tem-se, em perspectiva, o estrago que o socorro aos bancos irá causar nas contas públicas de vários países, limitando futuros investimentos.

Outra questão relevante é a da seguridade social na Europa que, pressionada por um maior desemprego, desequilibrará ainda mais as contas dos países da zona do Euro. Por fim, um mercado em recessão gerará perdas para a maioria das corporações, gerando um ciclo vicioso que não aprofundaremos nesse momento. Por ora, procuraremos conferir foco em um horizonte de um ano, que já é pode ser considerado uma “eternidade”, diante da dinâmica dos fatos.

Nesse horizonte, vamos tentar entender os efeitos potenciais sobre o agronegócio brasileiro, passando pela colheita da safra verão, cultivo da safra de inverno e o financiamento da safra 2009/10, que hoje deve ser a preocupação maior do governo e das cadeias produtivas.

Assim, os pontos que merecem destaque, de forma sumária, são:
 

 
Volatilidade do Câmbio e Crédito 



- Para grandes produtores:
Na medida em que nem todos os produtores captaram seus recursos na totalidade para plantar a safra 2008/09, os efeitos do aperto já se fazem sentir, sobretudo no MT e Bahia, onde os produtores de grande porte liquidaram seus financiamentos de algodão para renovar suas linhas para a safra de soja. Em alguns casos, os bancos simplesmente negaram a renovação, influenciados pela situação externa. Diante disso, entidades da classe produtora “correram” para Brasília em busca de ajuda, através da solicitação de uma linha emergencial de U$ 2 bilhões, que seria viabilizada através das tradings, mas cuja operacionalização não é simples. Diante do histórico recente, e sem regulamentação para esse tipo de operação, o governo teria que se superar para conseguir colocar esse recurso nas mãos dos produtores a tempo hábil para o plantio. Adicionalmente, o Ministro da Agricultura anunciou um reforço de R$ 5 bilhões para a agricultura, que será repassado através dos bancos. Mas será que os bancos querem assumir mais risco em um cenário de volatilidade das commodities como estamos vivendo?  Boa parte desse recurso não chegará aos produtores. A dura realidade é que alguns não terão recursos para plantar ou manter o seu padrão de tecnologia. A cultura mais afetada é o algodão, que possivelmente terá reduzida por volta de 30,0% de área no MT e entre 15 e 20% na Bahia. A redução da oferta de crédito de algumas tradings também afetou a capacidade de financiamento da próxima safra. Não fossem os bons resultados da safra passada, o quadro seria ainda mais grave. Se as tradings não “prepagarem” soja entre dezembro e janeiro, teremos problemas para manter a área e a tecnologia da safrinha de milho no MT e Sudoeste Goiano.
 

Existe outro contingente de produtores de grande porte que conseguiu captar o crédito antes que a porta se fechasse, mas operaram essa captação em U$ em operações de commodity finance com taxas de juros interessantes junto a bancos privados ou na compra dos insumos indexados a essa moeda. Eles acreditavam na oportunidade da estabilização ou queda da paridade com o real. A maior parte dos produtores, por conta da retração das tradings em prefixar a safra nova, acabou ficando exposta às bolsas externas, sobretudo nas cotações da soja na bolsa de Chicago. Após comprarem os insumos a um custo recorde em R$, agora sofrem com a queda das bolsas sem a contrapartida do câmbio, já que devem parte do seu custeio (40 a 70% em U$) e sua receita será em dólar, mas com certeza, menos dólares. Nesse caso, o problema não é crédito, mas sim a viabilidade da safra.

- Para cooperativas, usinas e tradings: No caso das cooperativas e exportadoras, a situação é ainda mais complexa e exigirá mais atenção por parte do governo. Na atual crise, da mesma forma que ocorreu no caso da retração de crédito de 2002, a primeira linha a desaparecer é o ACC e outras relacionadas à exportação. No momento em que ainda temos um grande volume de milho estocado, esse quadro prejudica um eventual escoamento via exportação, pressionando ainda mais os preços que irão desestimular o plantio da safrinha.

Outras linhas, hoje fundamentais para as cooperativas e tradings, são as viabilizadas através das estruturas de commodity finance, onde o grão, fibras ou produtos transformados (açúcar, por exemplo) são dados em garantias em operações de crédito mais complexas. Nos casos de maior risco, os bancos rateiam com outras instituições a exposição ao cliente, através de estruturas denominadas “sindicatos”. Esse modelo de securitização se aproxima do formato derivativo adotado no subprime, mas com nível de risco relativamente menor. De qualquer forma, as linhas sumiram. O ponto é que hoje, as mesmas são importantes para a programação de caixa, sobretudo no caso dos exportadores, onde se incluem as usinas de açúcar e álcool, que utilizam esse recurso “barato” para atender a necessidade de capital de giro.

- Sistema de distribuição de insumos: Da mesma forma que a maioria dos segmentos da sociedade acreditava na firmeza do R$ frente ao U$, com o sistema de distribuição de insumos não é diferente. Muitas revendas de insumos adquiriram seus estoques em U$ (operações de vendor) e não repassaram a venda através da mesma moeda. Aqueles que operaram na “troca” por grãos e fibras possuem um hedge natural de moeda, o que resolveria o problema, mas nem todos conseguiram ou quiseram travar o preço futuro do grão, estando expostos às commodities em queda. Um potencial problema para os seus fornecedores, que já viveram esse problema em 1999, mas como as empresas perdem a memória rapidamente, terão que conviver novamente com a adversidade dessa situação.

- Fornecedores de insumos: Além das questões abordadas acima, que poderão afetar a qualidade dos recebíveis em U$ das empresas, a gestão de risco de inúmeros fornecedores negligenciou a exposição cambial em seus projetos de investimento e até captações em U$ para gestão de fluxo de caixa, haja vista que ocorreu uma avalanche de recursos canalizados por novos bancos e fundos operando com recebíveis e commodity finance.


Queda das commodities agrícolas e efeitos sobre o produtor  


Até o momento, as quedas das commodities têm sido parcialmente compensadas pela desvalorização cambial. No entanto, se o governo seguir intervindo frequentemente no mercado, visando conter a pressão inflacionária e minimizar o problema dos expostos ao U$, poderá vestir um santo e deixar o outro nú. Essa ação gerará prejuízos para uma grande parcela de produtores e empresas que não apostou no R$, mas sofrerá com a queda das commodities, sem a contrapartida proporcional do câmbio. Nesse momento, não há uma medida ideal para o câmbio. É uma decisão difícil, mas o governo tem que pesar esses efeitos, pois essa é a safra verão menos protegida dos últimos anos. Os produtores fizeram poucas vendas e partiram com a planilha de custo mais alta da história. As contas já não estão boas para soja e milho na maior parte do país. Porém, se o governo segurar o câmbio, enquanto as commodities despencam nas bolsas externas, o desastre será volumoso e o efeito sócio-econômico, muito sério. É importante lembrar que a última crise na agricultura (2004/05) ocorreu durante um período de alta liquidez, ou seja, mesmo devendo, os produtores encontraram quem os financiasse. Isso não ocorrerá novamente. Se o produtor quebrar, estará fora de produção e dificilmente alguém ocupará a sua área, pois, quanto maior, mais difícil será para o produtor custear a sua safra. Se a soja vier a U$ 8,00/bu e o dólar ficar abaixo de R$ 2,10/U$, será um problema para muitos produtores do Cerrado.


Em resumo:


Mesmo que o câmbio retorne para patamares inferiores a R$ 2,00/U$, não temos como eliminar os seus efeitos, pois a quedas das commodities, aplicada à safra mais cara da história, por si só, provocará danos na adimplência de compromissos e na descapitalização dos produtores, sobretudo no Centro-Oeste e Nordeste.


Agora, no segundo tempo da crise, o problema, aqui e principalmente lá fora, passa a ser de credibilidade no segmento de empresas compradoras e fornecedoras e cooperativas, haja vista que as perdas na exposição cambial já existem e o crédito não será mais abundante em lugar algum do planeta.

O efeito cambial, associado à perda do valor dos ativos e à diminuição do crédito, mitigará a capacidade de recuperação de empresas em dificuldade, independentemente de fatores como idade, valor de marca e portfólio de produtos.  


Recomendações


Temos recomendado aos produtores a não se capitalizarem nos próximos 12 meses, evitando expansão de área e imobilização de capital em terra, máquinas e infra-estrutura. Um passo errado em um cenário de aperto pode ser muito prejudicial à continuidade na atividade.


Para o governo, embora pareça prematuro, consideramos importante a constituição de um gabinete de crise. De maneira geral, os Estados tendem a ser reativos perante as crises. Seus governantes buscar transmitir tranqüilidade para a sociedade o que, em parte, faz sentido. Porém, no ambiente executivo, o governo deve sim ser minimamente competente em antever os efeitos nefastos que uma crise pode impor ao seu sistema produtivo. No Brasil, não existe nenhum setor produtivo mais importante que o agronegócio, pela sua participação no PIB, capilaridade econômica e geração de empregos. Enfim, é de suma importância sócio-econômica para milhares de municípios pelo interior afora.

Apesar de a crise ter chegado relativamente tarde para afetar de forma significativa o financiamento da safra 2008/09, temos uma perspectiva preocupante para a safra 2009/10. Os danos já sinalizados são graves e talvez existam poucos profissionais no país que conheçam os mecanismos de financiamentos de forma ampla, inclusive os privados, com credibilidade para alertar e mobilizar o atual governo para a dimensão do problema que teremos que enfrentar para viabilizar a safra 2009/10. Se o governo esperar a materialização dos eventos para encaminhar as medidas, talvez não tenhamos tempo para evitar uma crise profunda no agronegócio, com redução de plantio significativa no cerrado.

O Governo deve prestar especial atenção nos grandes produtores do cerrado, que terão boa parte da sua operação inviabilizada em 2009/10. Isso se deve ao modelo vigente de repasse do crédito rural no país, baseado no indivíduo (CPF), e não na célula produtiva (ha). Esse sistema prestigia os pequenos e médios, deixando os grandes para o mercado privado financiar. No entanto, no atual contexto, a dúvida é: o mercado financiará em 2009?

Da mesma forma, cooperativas e fornecedores de fertilizantes merecerão especial atenção também nesse ano, pois os efeitos da volatilidade dos mercados só serão sentidos no próximo ano quando suas exposições cambiais excessivas ficarem evidentes.  

De acordo com o caminhar da segunda etapa da crise (a corporativa e do consumidor americano), podemos ter mais volatilidade e aversão ao risco, o que poderá ocorrer no primeiro trimestre de 2009, após publicados os números do Natal nos EUA. Isso ocorrerá no período em que os produtores estarão quitando seus débitos da safra 2008/09.

Uma inadimplência significativa nesse momento criaria um impasse no crédito privado no país e não temos, hoje, mecanismos de substituição dessas linhas. Se isso ocorrer, e existe boa possibilidade que ocorra, teremos 120 dias para criar uma solução para uma região ampla. Portanto, é fundamental que o governo atual construa cenários, no sentido de mapear os efeitos que o recrudescimento da crise poderá trazer ao setor agrícola.

Na nossa visão, em um pior cenário, poderíamos ter uma redução de área e tecnologia com um potencial entre 10 e 15% em volume de produção de soja, por exemplo, fora o milho safrinha, que já temos como certo que deve reduzir substancialmente (5 a 10%). Uma redução na produção de grãos, aliada à queda dos preços agrícolas internacionais, teria forte impacto sobre a nossa balança comercial, realimentando a alta do U$. Sem dúvida, é um impasse complexo, que exigiria foco e competência do governo e entidades setoriais, para ser solucionado.
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Troca & Securitização

Pode-se considerar que quem efetuou troca na primeira metade do ano está em boa situação. Os produtores do MT que efetuaram operações de troca apresentam resultado superior a 10% de rentabilidade na soja na BR 163 e Sapezal. Para atual conjuntura, pode-se considerar o resultado muito positivo. No lado negativo das trocas, se encontram canais de distribuição que trocaram na ponta do produtor, mas não conseguiram ou não quiseram travar contra as tradings. Nesse momento, essas operações apresentam entre 5 a 10% que, para distribuidores, é significativa. Provavelmente, os mesmos irão aguardar um pouco mais para apresentarem a situação. O problema é que a maior parte dos canais que trocam são os mesmos que compram em U$. Nesse caso, se não houve o travamento do preço da soja na outra ponta, o prejuízo já subiria pra casa dos 25 a 30%, conta que provavelmente acabará nas mãos do fornecedor.
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Crédito & Recebimento


Algum estresse na liquidação do algodão agora no final do ciclo, mas nada de extraordinário. No que tange à Safra 08/2009, vendas de insumos em U$ são fator de preocupação, já que o descolamento do câmbio acima 30%  em relação a uma previsão de taxa de U$ 1,68 para abril de 2009 (vigente no mercado entre Junho e Julho/08). De acordo com uma avaliação da comissão de assuntos econômicos da ANDEF, por ocasião da desvalorização de 1999, uma variação superior a 15% já seria suficiente para acionar o gatilho da inadimplência que, a partir desse patamar, assumiria uma evolução exponencial. De lá para cá, apesar das alterações ocorridas no código civil e o aumento das vendas diretas podem melhorar o perfil de risco dessas contas. No entanto, caso o câmbio se desloque ainda mais, o problema será grande. Outro fator complicador são os canais de distribuição que compraram em U$ e repassaram em R$. É de se esperar que, reeditando o que ocorreu em 99, propostas como a taxa intermediária de câmbio possam surgir em breve.
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Dinâmica dos Preços

   Fonte: Cepea/Esalq


Milho: O mercado segue frouxo, mesmo com as exportações ganhando um pouco de ritmo com a presença da Cargill e Bunge comprando no MT. Existe um volume de estoque elevado, na região (acima de 2,0 MMT). Esse milho terá que ser removido até final de dezembro, para conferir espaço à soja que iniciará a ser colhida na última semana de dezembro em Luca do Rio Verde. A limitação logística do MT deverá pressionar um pouco mais os preços nos próximos dias. Com os preços baixos no momento, configura-se um problema para as empresas de fertilizantes, que ainda possuem alto estoque e basicamente indexado em dólar, o que diminui sua margem de manobra para baixo. Neste sentido, com adubo caro e milho em baixa teremos tanto redução de tecnologia (limitada à oferta de híbridos de baixa tecnologia ) como de área, que deverá diminuir pela atual inviabilidade econômica da cultura e a falta de crédito para viabilizar o plantio. Normalmente, onde o produtor não tem acesso às linhas de credito rural para safrinha, a saber, no MT, o produtor acaba vendendo soja com pré-pagamento (soja verde) para comprar os insumos. Mas o racional de vender soja no breakeven para viabilizar uma safrinha entre –40 e -30 % de resultado não nos parece razoável, mesmo para o produtor mais apaixonado.

 
Complexo Cana: Ao longo de setembro/08, a cotação do álcool hidratado acumulou alta de 3,64%, com média de R$ 0,7516/litro. Em relação ao mesmo período do ano passado, observou-se um aumento de 29,41%. A alta de preço do álcool era inesperada, já que a cana se encontra em período de safra, devendo ser a mesma atribuída ao aumento da demanda para produção de combustível. O açúcar também apresentou alta no mês, com cotação média de R$ 30,81/50kg. Em comparação a setembro/07, o preço subiu 22,7%. Em relação ao desempenho desse produto, primeiramente deve-se considerar a recuperação dos preços no mercado internacional em 2008, somado às expectativas de queda na produção mundial e nacional, visto que a Índia, um dos principais produtores de açúcar juntamente com o Brasil, anunciou uma redução na produção de açúcar para a próxima safra. Adicionalmente, tem-se a expectativa de substituição do açúcar da safra 2008/09 para a produção do álcool hidratado, o que deve levar a uma significativa retração da oferta do primeiro.   
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Câmbio

                                     Fonte: Bacen

Ao longo de setembro/08, o dólar comercial sofreu forte valorização de 16,40%, com cotação média de R$ 1,79/dólar. Na primeira quinzena de outubro, a moeda americana se valorizou ainda mais, chegando ao patamar de R$ 2,28/dólar no dia dez (marca que não atingia desde junho/06), em função do pânico generalizado no mercado financeiro global. Logo em seguida, a moeda apresentou recuo, como reflexo das constantes intervenções do Banco Central no mercado cambial e ações conjuntas dos bancos centrais nos EUA e Europa.
   
A recente e brusca desvalorização do Real foi provocada pela maciça saída de capitais do Brasil, em busca não só de ativos mais seguros, como também visando cobrir os “buracos” deixados pela crise nos países de origem, especialmente nos EUA e Europa. Nesse aspecto, os sintomas da crise para os países têm sido uma forte retração do crédito, não só ao consumidor (curto prazo), mas como a investimentos de médio e longo prazo (no Brasil, alguns investimentos em setores industriais e imobiliários foram paralisados e/ou cancelados em função de insuficiência de caixa para os projetos). A desconfiança interbancária, incitada pela falência em seqüência de instituições financeiras consideradas sólidas, freou os empréstimos entre os bancos, provocando uma crise de liquidez histórica para o capitalismo. Alguns comparam a atual crise àquela ocorrida em 1929. Sob um aspecto, pode-se dizer que ela é mais acentuada, já que os mercados financeiros são mais globalizados, fazendo com que crises localizadas tenham um efeito expansivo maior quando comparado àquela época. No entanto, a diferença favorável da atual crise em relação a 1929 é a maior capacidade de intervenção do Estado, que, após a década de 1930, aprendeu que a “auto-regulação” dos mercados pode ser ilusória, amortecendo os efeitos deletérios da crise financeira sobre a economia real (produto e emprego).
   
No Brasil, o governo vem tentando combater a crise de duas formas: 1) Criação de mecanismos para aumentar os empréstimos dos bancos (como o aumento e liberalização dos compulsórios, que visou aumento de crédito acima de R$ 5,5 bilhões à agricultura) e 2) Intervenções do Banco Central, através de leilões de câmbio e vendas de swaps cambiais, para impedir a desvalorização do Real. A segundo medida tem como principal intuito conter a inflação interna, cujas projeções para 2009 vêm aumentando gradativamente. Apesar de os preços dos grãos e outras commodities, como o petróleo, terem recuado significativamente nos últimos 45 dias (muito influenciados pelas perspectivas negativas da crise e queda da demanda global), há uma expectativa de que, no próximo ano, haja um aumento dos preços de alimentos, em função da menor oferta de produtos no mercado internacional, devido à falta de crédito para o plantio da Safra 2008/09 e altos custos dos insumos de produção a ela atrelados. Assim, o intuito é utilizar o câmbio como instrumento de combate tanto à inflação presente, como à expectativa de inflação futura. Tal preocupação ocorre em escala global, onde a crise aumenta as perspectivas de estagflação (baixo crescimento econômico com altas taxas de inflação).
   
É certo que as reservas internacionais brasileiras (acima de U$ 200 bilhões) permitem que a intervenção do Banco Central seja prolongada e efetiva, impedindo que uma crise financeira mais acentuada provoque uma brusca desvalorização, como as que ocorreram em 1999 e 2002, quando as reservas estavam no patamar de U$ 40 bilhões. No entanto, a tendência é de que, dado o cenário presente de crise, haja uma contínua pressão para a desvalorização do Real nos próximos meses, ainda mais com a perspectiva de menor crescimento da taxa básica de juros, na tentativa de o governo realizar políticas anti-cíclicas. Quanto ao rumo tomado pelo câmbio nos próximos meses, o mesmo irá depender não só dos demais desdobramentos da falta de crédito e liquidez sobre as empresas financeiras e industriais em escala global, mas também da resposta dos agentes em relação aos estímulos provocados pelos bancos centrais ao redor do mundo. No primeiro trimestre de 2009, quando forem publicados os balanços das empresas nos EUA, o dólar pode retomar a patamares elevados, ultrapassando a casa dos R$ 2,60/dólar. No momento, no entanto, a única coisa que se pode afirmar com maior certeza é a permanência de grande volatilidade no mercado cambial, com a permanência de fortes oscilações diárias até o final do ano.
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Viabilidade & Liquidez


O saldo de caixa resultante da safra 07/08 foi muito bom em quase todas as localidades do país, mesmo no sul do MS que enfrentou problemas com sementes de soja, geadas e por fim a quebra da COOAGRI, principal cooperativa da região. Os produtores do Sul/Sudeste têm dinheiro e grãos em depósito. No cerrado, os produtores praticamente apresenta safrinha em estoque, mas pouquíssimo dinheiro na mão. Não há sinal de antecipação de recursos por parte das tradings. Para viabilizar a safrinha, muitos terão que pré-vender soja o que, na atual conjuntura de preços, seria negativo. Daí a grande dúvida, mas de fato o produtor está sentindo o aperto do crédito em todo o cerrado, sobretudo os grandes. Esse é apenas o prenúncio do que ocorrerá ao longo de 2009.




 

A viabilidade econômica dos estados do sul/sudeste é motivada pela queda de rentabilidade/ha diante dos ajustes das commodities de verão e também do impacto dos preços do milho sobre a safrinha. É possível que tenhamos uma recuperação nos preços do milho para o segundo semestre de 2009, o que melhoraria o índice desses estados. No Cerrado o quadro é mais complexo. Deve-se ressaltar que estamos reportando os produtores que fizeram troca ou compraram insumos em R$, pois nos casos onde o produtor deve em U$, a viabilidade está entre “muito ruim” e “inviável”. Isso se aplica também a muitos casos de produtores de algodão, que terão forçosamente que reduzir a sua área por indisponibilidade de crédito ou inviabilidade dos contratos assumidos para 2009. É importante salientar que não existe situação mais adversa para um produtor de algodão que a redução de área, pois como se diz no mercado, “só quem paga dívida de algodão é algodão”, pois nenhuma outra cultura geraria receita para cobrir seus compromissos. Nesse contexto, a viabilidade desses produtores está em risco.


Para melhor interpretação dos índices, consulte o seguinte link:
http://www.agrosecurity.com.br/conteudo.php?id=11

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Jurídico

Novo decreto prevê um ano para averbação de Reserva Legal

A nova versão do decreto 6.514, de 2008, que regulamenta a lei de crimes ambientais, será publicada nos próximos dias. Segundo deputado Valdir Colatto (Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária), ficou definido pelos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura que os produtores rurais terão prazo de 12 meses, a partir da data de publicação do novo decreto, para averbarem a área destinada à Reserva Legal. Também ficou acertada a suspensão das sanções de embargos de atividades, obras e áreas já aplicadas em áreas de Preservação Permanente. O documento prevê que os embargos não atingirão toda a propriedade, além da diminuição, de três anos para seis meses, nas sanções restritivas de direitos, entre outros pontos. De acordo com Colatto, este período servirá para que os parlamentares e o governo possam elaborar uma proposta maior na questão ambiental. "Precisamos criar o Código Ambiental Brasileiro para que o produtor rural possa continuar na atividade e buscar o equilíbrio entre produção de alimentos e preservação ambiental", finalizou.


Fonte: Agrolink 
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Nota: A Agrosecurity não se responsabiliza pelo uso indevido do conteúdo do Boletim para efeito de definição de limite de créditos individuais ou da exposição financeira regional. Por se tratar de uma avaliação do quadro geral (médio) dos aspectos econômicos e financeiros, pode haver divergências significativas da situação real de liquidez e viabilidade de um produtor rural em particular.   

 

 Editorial
   Texto: Fernando Pimentel    Edição: Felipe Prince e Caroline Pereira


 

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