Boletim Agrofinanças | nº 18 | maio | 2008

 

 
Nesta edição, limitamo-nos a traduzir um texto emblemático do que ocorre hoje nos EUA em relação aos mecanismos de hedging disponíveis para o produtor. Como havíamos alertado em edições anteriores, a volatilidade dos mercados agrícolas, no curto prazo, pode até estar beneficiando  os produtores. No entanto, no médio e longo prazos, agente algum do mundo real sai ganhando. Neste texto os produtores americanos narram suas dificuldades em se proteger para a próxima safra, e falam da ausência dos elevators como intermediários na precificação futura da sua produção. Essa tendência pode se repetir no Brasil, e é mais forte hoje, após os eventos negativos ocorridos com as tradings no Cerrado e no Paraná, evidenciando o impacto da volatilidade sobre a economia real. Muitas tradings de médio porte e, até mesmo as grandes, como medida preventiva, devem evitar carregar posições compradas em grande volume, por conta dos ajustes em CBOT, e das potenciais distorções de prêmio e frete que, por sua vez,  podem acarretar perdas substanciais, como as ocorridas em anos anteriores. Devemos alertar que o que ocorre hoje com os americanos pode ocorrer amanhã com os produtores rurais brasileiros. Boa leitura.

Volatilidade dos preços traz preocupações aos produtores do EUA
Fred Grieder, um produtor de Bloomington, Illinois – EUA, tem mais preocupações hoje em dia do que simplesmente trabalho pesado, safras e chuva. Se o mercado futuro de commodity mudar bruscamente, ele pode perder tudo.

Fred Grieder produz há 30 anos em 1.500 acres perto de Bloomington, no centro de Illinois – EUA. Isso significa 30 anos de longos dias plantando, fertilizando, e torcendo para que nada aconteça para estragar sua safra.
“Pode ser 12 horas ou 20 horas, depende” diz Grieder.

Os dias de Grieder estão se tornando cada vez mais longos. Agora, ele tem que “ficar de olho” na bolsa de Chicago, para tentar “hedgear” o seu risco, para assim saber quanto vai ganhar no futuro pela safra que esta plantando agora. Porém, as ferramentas financeiras que ele usa para obter tais garantias estão se tornando mais caras e menos confiáveis.

Em seu pouco tempo livre, Grieder frequenta as reuniões do Illinois Farm Bureau para se juntar a outros produtores frustrados, que estão fazendo lobby em Chicago e Washington, para que sejam resolvidos os problemas de um sistema que foi criado há 50 anos, com o intuito de diminuir as incertezas para os produtores de alimentos; sistema este que agora está fazendo com que essa incerteza aumente.

Grieder, 49, fica “sem jeito” de reclamar no meio de tanta prosperidade. Os preços altos dos grãos puxados pelo crescimento da demanda mundial, além do dólar fraco estão fazendo com que a sua produção se torne mais competitiva no mercado global.

Porém, os atuais preços da safra não estão apenas mais altos, estão também muito mais voláteis. Por exemplo, uma medida de volatilidade usada como referência nos EUA (measure of volatility) mostra que, em março, traders acreditavam que os preços do trigo iriam variar para cima ou para baixo mais do que 72%, três vezes mais do que a média de volatilidade para esse mês, e a marca mais alta desde, pelo menos, 1980. A expectativa em Março de variação para o preço da soja foi três vezes maior do que a média do mês, e a volatilidade esperada para o milho foi duas vezes mais elevada do que a média do mês.

Essas grandes variações nas expectativas de preços estão deteriorando os mecanismos – como contratos futuros e opções – que no passado amorteciam as quedas dos produtores, transformando os já muito ocupados agricultores em relutantes day traders e lobistas.

Um indicativo da frustração dos produtores americanos é o grande público esperado para um fórum público que ocorreu no dia 22/04 no Commodity Futures Trading Commission, em Washington. O interesse foi tão alto que, pela primeira vez, o fórum foi transmitido online. O objetivo deste evento é o de avaliar se os principais mercados futuros estão cumprindo adequadamente o seu papel de gerenciamento de risco e projeções de preço.

Os custos adicionais que estão sendo gerados pela volatilidade dos preços dos grãos – elevação do seguro para a safra, por exemplo – não são um problema apenas para os produtores. “No final das contas, esses custos serão repassados para os consumidores americanos” disse William P. Jackson, gerente geral da AGRIServices, um complexo de cerealitas da região do Missouri.

Os preços do BCI (Broad Commodity Indexes) subiram algo como 40% no último ano; já os preços dos grãos sofreram uma elevação ainda maior – cerca de 65% no milho, 91% na soja e mais de 100% para alguns tipos de trigo. Esse “boom” dos preços atraiu um grande fluxo de novos investimentos de Wall Street, estimados em US$ 300 bilhões.

Se esses novos investidores estão gerando os problemas do mercado ou simplesmente prevenindo que eles piorem, é uma questão a ser pensada. Mas, não há dúvidas de que o mercado de grãos está experimentando níveis de volatilidade muito acima da média dos últimos 25 anos.

O prêmio do seguro do Sr. Griedersobe na mesma direção da volatilidade. Da mesma forma, sobem os custos dos contratos de opção, que é a ferramenta financeira que ele vem usando para prevenir-se contra queda nos preços. Alguns cerealistas estão evitando elevar o seu risco diante desta volatilidade, minimizando sua exposição na compra antecipada da safra, indisponibilizando, assim, a forma mais comum adotada pelos produtores para assegurar os seus preços. “O sistema está realmente começando a ruir”, diz Grieder. “Quando você vê cerealistas tirando suas ofertas de compra (bids) para a nossa safra, isso mostra que temos um problema real.”  

Até recentemente, esse sistema vinha funcionando por gerações. Desde 1959, produtores de grão vêm conseguindo fazer o seu hedge de preços de trigo, milho e soja na CBOT por meio de contratos futuros.

Essa ferramenta vem, há muito tempo, sendo uma forma de o produtor garantir o preço da safra no momento em que ela está sendo plantada, eliminando os riscos de que os preços caiam antes de ela ser colhida. Com essas ferramentas de hedge, cerealistas conseguem comprar safras dos produtores com antecedência, algumas vezes até um ano ou mais antes de ela ser colhida.

Mas isso foi ontem. Esse mecanismo simplesmente não está funcionando da mesma maneira hoje.

Contratos futuros, por exemplo, são menos confiáveis. Eles funcionam como hedge apenas se seus preços caírem junto com os do mercado à vista, onde o grão é realmente vendido. Cada vez mais, os contratos futuros estão vencendo muito acima do preço do mercado à vista, criando uma grande distorção.

Quando isso acontece, produtores ou cerealistas acabam depositando mais em seu hedging do que na sua equivalência no mercado à vista (forte variação de prêmio). Tal anormalidade gera incertezas sobre qual será o preço que realmente reflete a oferta e demanda do grão – um grave problema, já que os preços da CBOT são referências para os preços dos grãos em todo o mundo. “Eu, honestamente, não posso sentar aqui e te dizer quem está determinando os preços dos grãos,” disse Christopher Hausman, um produtor em Pesotum, Illinois. “Eu perdi a confiança na CBOT.”

David D. Lehman, diretor de pesquisa de commodities e desenvolvimento de produtos da CME Group, controladora da CBOT, diz: “Nós sabemos que a conjuntura global atual está criando desafios para os usuários tradicionais do nosso mercado, e isso nos preocupa muito. Mas muitas coisas estão mudando e não temos uma bola de cristal para prever uma solução.”

Muitos produtores e pessoas relacionadas com esse mercado acreditam que as falhas nos contratos futuros e a crescente volatilidade são culpa da maré de investimentos nesse setor, realizadas por hedge funds, fundos de pensões e fundos indexados. Porém, o dinheiro desses investidores institucionais, na realidade, traz maior liquidez ao mercado o que, na teoria, deveria reduzir a volatilidade dos preços, acrescenta Lehman.

Em qualquer caso, no nível de volatilidade atual, as opções passam a ter mais riscos, e consequentemente ficam mais caras – caras demais para muitos produtores como o Sr. Grieder, que agora tem que fazer hedging por meio de contratos futuros, que estão menos confiáveis ultimamente.

Isso o expõe ao risco de ter que colocar mais dinheiro – para manter a proteção dos preços – sempre que uma ameaça climática, uma interrupção no transporte, ou uma nova entrada de capital de Wall Street pressionem os preços para cima.

“Se você tiver 50.000 bushels em hedge e o mercado subir 20 centavos de dólar, isso significa US$ 10.000 em um dia,” afirma Grieder. “Se você tiver apenas US$ 10.000 de margem, você terá que sentar e assinar um cheque. Você vê US$ 10.000 desaparecem de um dia para o outro.”

Em um dia mais volátil, ele afirma, que pode chegar a receber até quatro ligações de seu corretor atrás de mais margem. “Mas normalmente o pedido de margem vem pelo correio, em um pequeno envelope azul,” disse Grieder. “Você nem precisa abrir para saber o que é.”Quando recebe esse tipo de pedido, ele, algumas vezes, tem que recorrer ao banco para conseguir o dinheiro necessário para manter esse hedge – um preocupante pedido até mesmo para um produtor bem sucedido, já que a economia americana vive em um momento de retenção de crédito.

“O pesadelo ocorre quando você precisa de mais margem, ao mesmo tempo em que corre o risco de ter algum problema na safra,” afirma ele. “Todo mundo conhece uma história de alguém que teve que liquidar a sua posição na bolsa por não ter como bancar as margens, muitas vezes perdendo o hedging e o dinheiro.” 

Os produtores costumavam deixar o acompanhamento do mercado para os traders das grandes empresas cerealistas. Porém, como algumas dessas empresas estão se recusando a comprar safras antecipadamente, devido ao fato das ferramentas de hedge terem se tornado tão caras e incertas, os produtores estão tendo que acompanhar e operar nesses mercados por conta própria. “Isso é algo com que os produtores não precisavam se preocupar no passado”, afirma Curt Kimmel, um corretor da Bates Commodities, corretora que o Sr. Grieder usa. “É um mercado cruel e implacável.”

John Fletcher, um cerealista que opera em Marshall, Mo., começou a pressionar a CBOT para identificar as falhas nos contratos futuros a quase dois anos – antes mesmo de seus contratos futuros em um milhão de bushels de soja terem falhado em Setembro último, e terem lhe gerado uma perda de US$ 940.000 em caixa. Fletcher não culpa a entrada dos grandes investidores institucionais no mercado agrícola. “Mas eles contribuíram para o problema, ao tornarem o mercado muito maior – maior até mesmo do que o seu sistema de entregas,” diz ele. “E isso descolou o mercado futuro do à vista.”

As crescentes incertezas em relação aos preços e aos processos de hedge “apenas deixam o mercado menos eficiente,” afirma Jeffery Hainline, presidente da Advance Trading, uma consultoria de agricultura e corretora em Bloomington, Illinois. “E tudo que deixa esse mercado menos eficiente faz aumentar o custo dos alimentos.”

Robert E. Young II, economista chefe da AFBF (American Farm Bureau Federation), teve reuniões por todo o farm belt Americano nos últimos meses, e tudo que ele recebeu foi repreensão de produtores e cerealistas descontentes.“Eu digo para as pessoas, ‘Você não vai comercializar a safra de 2009 do mesmo jeito que comercializou a de 2007. Você pode nunca mais comercializar da mesma maneira no mercado de grãos.’ ”

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Troca & Securitização
As parcerias com empresas de insumos (de primeira linha) são o melhor caminho para tradings que estão relutantes em abrir preços para os produtores. O receio de tomar um contrapé no hedging, estouro no frete e distorção nos prêmios colocam as operações com parceiros de insumos como as mais seguras e com as melhores margens, já que a maioria das tradings cobram “pedágio” para incorporar risco de crédito, ou no caso do risco correr por conta dos players de insumos, cobrar um belíssimo wash out penalty no caso de default, já que a ponta de lá costuma estar representada por traders incautos e menos experientes. É um jogo, mas está tomando corpo a cada dia como uma operação preferencial das tradings. Da mesma forma, para o pessoal do frango, é bom se aproximar da indústria de insumos para garantir abastecimento em operações conjuntas de troca. Apesar de a indústria estar relutante em operar com prefixação e/ou crédito, no médio prazo, não vai ter jeito. Tudo o que se faz com a soja hoje, será feito com o milho amanhã. Já é bom ir treinando.
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Crédito & Recebimento

O mercado segue na calmaria esperada para os grãos, sem muitos sobressaltos, a não ser nos contratos de venda no porto com partilha dobrada, “sei lá como se chama” esta variação criativa do mommy and daddy que inventaram para diferenciar as operações do mundo real. Nada contra a criatividade, mas o mercado não oferece condições para inventar moda, muito menos contratos.

No segmento de insumos só alegria, todo mundo colocou o dinheiro em casa, digo o dinheiro desta safra, porque ainda tem muita coisa de safras anteriores a ser cumprida. Quem espera pelo FRA mostra uma grande perseverança, louvável, mas vale à pena testar uma proposta de renegociação e/ou recuperação destes créditos para não se perder mais tempo. A maré está boa, mas, na agricultura, não se pode desperdiçar os bons momentos.

Quanto à Safra 2009, adubo e glifosato estão explorando ao máximo as oportunidades de venda à vista, em cima da premissa de que pode faltar produto, “blá, blá, blá”, mas seja como for, está funcionando até o momento. Os detentores destas mercadorias não estão a fim de esperar para ver como terminará está safra. Vão realizar os seus ganhos e gozar os seus bônus na praia...bem longe do campo. Só alegria para as equipes de venda.
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Dinâmica dos Preços

   Fonte: Cepea/Esalq


Algodão: Durante o mês de abril, mesmo sendo período de entressafra, o preço do algodão se depreciou em 7,33%. Como justificativa para tal depreciação podemos apontar a demanda limitada, e a apreciação do Real frente o dólar – que faz com que as empresas comprem mais algodão importado por um preço menor. Além disso, o fato de muitos produtores estarem liquidando seus estoques de safras passadas contribuiu para a queda nos preços da commodity.

Milho: Em abril, a cotação do milho sofreu alta de 6,00%. A elevação nos preços foi conseqüência da condição climática adversa nos principais estados produtores do Brasil, e da oferta restringida, causada, principalmente, pelos baixos estoques. Além disso, o fato de alguns produtores não estarem dispostos a efetuar vendas no momento, já que se encontram mais capitalizados agora do que em safras passadas, e o aumento da demanda mundial, impulsionada pela produção de biocombustivel e pelo aumento do consumo de carnes no mundo, também contribuíram para a elevação do preço dessa commodity.
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Câmbio

    Fonte: Bacen

Durante o mês de abril, o dólar comercial sofreu uma pequena desvalorização. A moeda norte-americana apresentou queda de 3,68% no mês, com cotação média de R$ 1,689. O ritmo de desvalorização foi constante durante todo o período, com exceção de alguns dias, em que o dólar sofreu leves elevações.

Após a última reunião do COPOM, no dia 16 de abril, aumentou-se ainda mais o diferencial entre as taxas interna e externa de juros, já que decidiu-se em aumentar a taxa básica de juros em 0,5% a.a., o que induz uma maior entrada de capitais estrangeiros no Brasil, pressionando o mercado cambial no sentido de valorização da moeda nacional.

Como é amplamente discutido, o principal motivo da elevação da taxa de juros é a tentativa de contenção da inflação. O setor de matérias-primas e o de alimentos são os que mais contribuem para a aceleração do processo inflacionário. Apenas no mês de abril, a cotação do petróleo Brent aumentou em 12,6% no mercado internacional. Acompanhando esse movimento, os preços de algumas fórmulas de fertilizantes agrícolas quase dobraram em algumas regiões de 2008 para 2007. Dessa forma, os preços dos grãos tendem a persistir em patamares elevados ao longo desse ano e da próxima safra, induzindo o Banco Central a adotar uma postura conservadora em relação à política monetária. Em relação à política fiscal, existe inclusive a possibilidade de aumento do superávit primário de 3,8% para 4,5% do PIB, visando contenção dos gastos do governo que possam aquecer ainda mais o processo inflacionário.

No entanto, o evento que merece maior destaque no mês de abril é a elevação do grau de risco-país para o nível de Investment Grade. Essa mudança tende a impulsionar ainda mais a queda do dólar, já que o Investment Grade atrai mais investimentos ao país, como é o caso de alguns fundos de pensão, ou de investimento internacionais, que apresentam em seu estatuto a condição de apenas investir em paises que detêm o grau de investimento. Adicionalmente, no mês passado, foram divulgados alguns indicadores positivos nos EUA, como a melhoria do índice de produção industrial do estado de Nova Iorque, o que faz com que investidores retomem sua disposição ao risco, voltando assim a investir em paises emergentes, como o Brasil.

Considerando esse cenário da economia brasileira, de altas taxas de juros e, agora, de grau de investimento, é esperado que, pelo menos no curto e médio prazo, o Real continue se valorizando frente ao dólar.
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Viabilidade & Liquidez


O estado do Paraná foi o que apresentou maior liquidez no mês de abril, em função das vendas de grande parte do grão realizadas no mês passado, que geraram caixa ao produtor local. Observa-se que os outros estados do sul apresentam menor liquidez que o Paraná; em contrapartida, apresentam um estoque maior de produção disponível para comercialização. Em comparação ao mês passado, o MS apresentou um forte ganho de liquidez, em função de liquidação de grande parte da safra vigente, sem imobilizar recursos para a compra de insumos da próxima safra. Tal comportamento não se verificou em Goiás e no Mato Grosso, onde grande parte dos produtores já adquiriu os fertilizantes da Safra 08/09. No sul do MT, por exemplo, apesar dos ganhos auferidos com a Safra 07/08, a liquidez é menor que o restante do estado, pois grande parte dos produtores locais já adquiriu os insumos da próxima safra. Quanto aos produtores de algodão, apesar da intervenção governamental através do PEPRO, a situação de liquidez é baixa, em função dos altos custos de produção, real valorizado e grande volume de pré-fixações comprometendo as safras futuras. O produtor de café também apresenta baixa liquidez; no entanto, a partir da colheita, que se inicia em maio, a situação tende a apresentar ligeira melhora.



 

Os estados do sul apresentam os melhores resultados de viabilidade econômica, devido às margens de lucro do grão na região e baixo nível de endividamento dos produtores em relação ao seu patrimônio. O estado de Minas Gerais tem apresentado custos elevados sistematicamente e a ausência de safra de inverno prejudica a diluição dos custos fixos do produtor, diminuindo sua situação de viabilidade. Além disso, nesse mesmo estado em função da antecipação da comercialização, os preços de venda do grão obtidos não foram tão satisfatórios. O estado do MS também foi, em parte, prejudicado pela rentabilidade dessa safra. Isso porque a produtividade média foi afetada negativamente, em função do uso de uma variedade de soja no plantio que apresentou baixo desempenho ao longo da colheita.

Para melhor interpretação dos índices, consulte o seguinte link:
 http://www.agrosecurity.com.br/conteudo.php?id=11

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Jurídico
A APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ÀS OPERAÇÕES DE COMPRA E VENDA DE INSUMOS AGRÍCOLAS. QUESTÃO AINDA NÃO PACIFICADA NOS TRIBUNAIS.


O texto a seguir se refere a matéria “TJ nega uso do CDC em compra de defensivos”, publicada no jornal Valor Econômico no dia 18/04/2008. A qual se refere ao caso do “tribunal de justiça de Goiás (TJGO) entendeu que a relação entre um produtor rural e uma empresa de insumos agrícolas não configura relação de consumo.”. Gerando, assim, jurisprudência.

Essa queda de braço é interessante. Ao que tudo indica, o Superior Tribunal de Justiça tende a firmar convicção pela não aplicabilidade do CDC, sob o pressuposto de que a aquisição (do insumo) se destina à produção (de grãos, etc...) e a comercialização (de grãos, etc...), não sendo o produtor, desta maneira, o destinatário final do insumo.

Apenas para ilustrar, lembramos que essa discussão ficou popularmente conhecida como a disputa entre a tese da “relação de insumo” contra a da “relação de consumo”.

Tecnicamente, o assunto permeia o mundo jurídico, requerendo incessante atenção dos profissionais. Partindo da premissa de que a matéria é infraconstitucional, a última palavra caberá, conseqüentemente, ao Superior Tribunal de Justiça. Essa Corte superior, por sua vez - apesar de já haver sinalizado que o CDC não se aplica às relações comerciais que envolvam a aquisição de insumos agrícolas pelo produtor rural -, ainda não proferiu reiteradas decisões, de forma a pacificar o assunto. Isto explica porque os operadores do direito convivem com decisões plurais nas instâncias primárias e nos Tribunais de Justiça estaduais.


A questão pode parecer periférica para os leigos, se considerado todo o contexto de uma relação comercial. Todavia, os advogados das partes muito debatem pelo sucesso de suas teses, visto as implicações processuais decorrentes, em especial a que deriva da inversão do ônus probante.

Não menos importante é mencionar que será de grande valia para o sistema judicial e para os jurisdicionados que o STJ se posicione definitivamente, até sumulando o tema, providência que muito contribuirá para a celeridade dos processos, que ficam submetidos à lenta tramitação no aguardo de decisões intermediárias, como a ora abordada.

Não podemos deixar de consignar a vigorosa irresignação dos colegas que defendem a aplicação do CDC, sob o argumento de que a vertente adotada pelo STJ não serena precisamente a questão. Para eles, é de difícil assimilação o direcionamento de que o produtor rural, adquirindo o insumo agrícola, não concentra em si a condição de consumidor final do insumo, somente pelo fato de utilizá-lo na produção agrícola. A convicção é de que o produtor encerra o ciclo do insumo, configurando-se, efetivamente, em seu consumidor final, nos moldes definidos pelo CDC. Considerando a resistência, acreditamos que os estudiosos doutores formularão novas maneiras de abordagem do assunto.

Observamos, por fim, que a corrente defensora da relação de consumo ainda faz muito eco, tão volumosa quanto a dos defensores da “relação de insumo”.

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Nota: A Agrosecurity não se responsabiliza pelo uso indevido do conteúdo do Boletim para efeito de definição de limite de créditos individuais ou da exposição financeira regional. Por se tratar de uma avaliação do quadro geral (médio) dos aspectos econômicos e financeiros, pode haver divergências significativas da situação real de liquidez e viabilidade de um produtor rural em particular.    


 Editorial
   Texto: Fernando Pimentel    | Jurídico: Marco Antonio Marinelli   |
 
Edição: Felipe Prince e Julieta Morais


 

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